Fotograma de uma Cracolândia-COLUNA CIÊNCIA PONTO CONSCIÊNCIA

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FOTOGRAMA DE UMA CRACOLÂNDIA

*Ildefonso de Sambaíba

Aqui estamos, em pleno coração de Brasília, no Setor Comercial Sul (SCS, para os mais íntimos). Somos protagonistas de extensa fila de apostas lotéricas. A Mega-Sena, acumulada, passa dos cem milhões de reais. Sempre que isso acontece, todos se despem das cerimônias, seja A, B, C ou D. Assumem o mesmo espírito ambicioso de ficar rico da noite para o dia, ou do dia para a noite. Entrementes, os burburinhos do tipo “o que vou fazer com o prêmio”, agora, transformam-se em silêncio de cemitério. Um casal que se aproxima dos enfileirados atrai o máximo das atenções.

Ele, o rapaz, com pés descalços e acentuado prejuízo da massa muscular, fraseia em dialeto transigente com sua rotina de vida, provavelmente. Dirige-se aos apostadores e pede “um trocado, para um rango”, pois nada comera ainda neste “hoje”. Paradoxalmente, veste camiseta com destacadas manchas de calçadas, mas com uma chamativa propaganda, dirigida a quem deseja galgar titularidades acadêmicas – “UniCespa: graduação, pós-graduação, MBA, mestrado, doutorado.”

Ela, a moça, não obstante a delicadeza das feições já camufladas pelo maltrato, ainda carrega discreta vaidade feminina. Usa um reluzente par de brincos róseos, cravados na mesma orelha esquerda. Fala roucamente alto, em tom provocativo, e debocha da vida: “Estou nesta situação, mas tenho um filho lindo que vai estudar e ser alguém… nem que seja o chefe da boca-de-fumo”. E como a pedir socorro (!!!), rasga-se em gargalhadas estridentes.

Engasgados na própria mudez, entreolhamo-nos. Nada mais.

 

Reencontros e Redespedidas

De tanto nos falarmos apenas pelas redes sociais, surgiu a palavra “saudade”. Bastou que alguém dissesse que estava saudoso dos demais, o vocábulo ganhou audiência dentro do grupo, e marcamos um happy hour. Entre os que, inicialmente, iriam ao evento, faltaram três: Cida, Zuleica e Guilherme. Os demais compareceram, pontualmente. Eu, Lenimar, Eliane, Élida e Simone com sua filhota Júlia. Ao final, combinamos que aquele fora o primeiro de muitos reencontros dos colegas de trabalho – uns já aposentados outros ainda na ativa.

Lembro-me de outro grupo que passou anos almoçando junto, mensalmente, em nome da amizade consolidada durante os cursos de faculdade. Participavam, além de mim, Beatriz, Orquídea, Roseno, Célia, Meire, Gersina, Conceição, Sales e sua esposa Osana. Precocemente, um aneurisma levou Célia a morar no céu e, a partir de então, os meses rarearam, o grupo dispersou-se. Não fosse a internet, hoje, nem teríamos noção das feições atualizadas uns dos outros. Afinal, conforme canta Cazuza em uma de suas canções, o tempo não para.

Quanto ao happy hour recente, aconteceu no Beirute, local de tradição brasiliense. Por estar completando cinquenta anos de existência, lá havia uma equipe de reportagem fazendo matéria comemorativa. Assim, fruto da coincidência, fomos parar nas páginas de um grande jornal. Pena que uma das colegas, sentindo-se ideologicamente patrulhada, em função do momento político delicado que vivemos já optou por desligar-se das redes.

Terá sido um reencontro ou uma redespedida? O tempo dirá.

 

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Et-Cétera-e-Tal

Meu abraço a todas as mulheres que semeiam a paz, a sabedoria e o amor”. As palavras são da presidente da Academia Internacional de Cultura (AIC), Meire Fernandes, durante cerimônia de entrega do Troféu-Mulher 2016. Há dezenove edições a AIC destaca, anualmente, dez personalidades femininas, nas mais diferentes áreas do saber – Salve! *** Tema da belíssima exposição fotográfica que o grupo ecológico Observaves exibe na galeria do Parque Olhos d’Água: “Para ter aves é preciso ter árvores”. Alguém ousaria discordar? *** Após 189 anos de fundação, o Jornal do Commercio, pertencente aos Diários Associados, encerrou suas atividades no último dia 29 de abril, quando circulou a última edição. Segundo o diretor-presidente Maurício Dinepi, o motivo do fechamento é a falta de anunciantes. Traduzindo: falta de leitores, consequência da era digital. *** Senhor, fazei de mim instrumento da Vossa paz!      

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(*) Jornalista (DRT/DF-3633); funcionário público, aposentado; poeta, autor de Vida de Vidro, Buquê de UrtigasQuem matou as Gazelas? e Samjahlia: Versos in Versos. e-mail: ildefonso.sambaiba@brturbo.com.br; twitter: @ildefonso_s

  

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